Diário de Pernanbuco fala sobre o novo pai e a alienação parental
Filhos são quem mais sofrem com afastamento
Neste domingo, Dia dos Pais, o publicitário R, de 37 anos não sabe se vai ver os filhos. É assim há cerca de dois anos, quando ele se separou da esposa com quem foi casado por 15 anos e com quem teve três filhos hoje com 17,15 e 10 anos de idade. No ano passado, ele foi à escola onde estuda o mais novo e foi surpreendido. "Ele já não falava comigo direito e, quando eu cheguei, a professora pediu que ele me entregasse um cartão. Ele não queria entregar, mas cedeu. O cartão falava 'Papai, eu nunca vou te deixar'", conta, emocionado.
"Eles dizem que foram abandonados, que eu não pago as despesas e não querem me ver, enquanto eu comprometo 70% do meu salário com eles e sempre procurei estar presente. A mais velha diz: 'Não quero mais falar contigo pelo que você fez com a minha mãe, você sabe porque'... Eles repetem o discurso da mãe. Esse sentimento vai sendo incutido na criança. Desde agosto do ano passado, quando saiu a decisão do Fórum de Jaboatão dando o direito de visitas de 15 em 15 dias, nas datas como Dia dos Pais, metade das férias e dos feriados, a situação se agravou”, lembra.“No começo eles não desciam, depois ficavam 20 minutos na portaria do prédio, resistiam em sair comigo e, agora, não querem me ver. Se encontro minha filha na rua ela não fala comigo e eles não atendem mais os telefonemas. Estão sendo usados como uma ferramenta de vingança, de chantagem e, nesse processo, acham que se me encontrarem vão trair a confiança da mãe e fazer com que ela sofra", desabafa.Para R, os filhos estão sendo vítimas da Síndrome da Alienação Parental (SAP), um problema cada vez mais frequente e que, em breve, deve ser considerado crime pela legislação brasileira gerada pela atitude de um dos pais quando difama ou impede o contato entre o filho e o outro genitor. Como no Brasil a maior parte das crianças está com a guarda da mãe, os pais vem sendo as maiores vítimas. Segundo dados da mais recente Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (Pnad), o País tem hoje 59 milhões famílias, com as mais diversas formações. Desde total, cerca de 10 milhões são formadas por mães sozinhas com seus filhos e apenas 1,2 milhão de lares constituídos por pais solteiros.A alienação parental vai do simples gesto de não passar telefonemas, esconder informações médicas e escolares, até inventar motivos para que as crianças não vejam o ex. Em casos mais graves, as mães mudam de endereço sem avisar ou invetam que o parceiro morreu. Há registro até casos de lavagem cerebral para que a criança passe a rejeitar o genitor que não mora com ela. E isso se faz das mais diversas formas, com palavras, atitudes e até incutindo falsas memórias que a criança passa a ter como verdades.Cadeia - No dia 15 de julho deste ano, o Projeto de Lei 4.053/2008 de autoria do deputado Régis Oliveira (PSC-SP), foi aprovado pela Comissão de Seguridade Social da Câmara dos Deputados. A medida quer penalizar a alienação parental com perda da guarda e até dois anos de prisão."A transformação em crime, hoje, é analisada porque se descobriu um número muito alto de casos. Na maioria das vezes, casos de mães imputando aos pais até mesmo crimes de estupro. Deve haver homens que estão cumprindo pena na cadeia por crimes que não cometeram", preocupa-se o juiz da Infância do Recife, ÉlioBraz.Para Mônica Rocha, chefe do Centro de Apoio Psicossocial (CAP) do Tribunal de Justiça de Pernambuco, órgão responsável pelo estudo social para a elaboração de pareceres em casos enviados pelas Varas de Família da capital pernambucana, a atitude é quase que uma regra nos casos que chegam ao centro. "A alienação parental sempre ocorreu com freqüência mesmo antes de receber esse nome. Muitas vezes, o pai é impedido de ver a criança por não estar pagando a pensão. Isso é irrelevante para a criança. É uma realidadeque não interessa, nem deve importar. Dependendo do tempo, pode causar maiores prejuízos, fortificando essa distância. Mas a reaproximação não é impossível. O pai persiste e pode sim reconquistar essa criança e isso vai fazer muita diferença", garante a psicóloga.
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