terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pais solteiros superam preconceito e dificuldades para criar seus filhos sozinhos


Desde a infância, as mulheres treinam para um de seus maiores papéis: o de mãe. Durante das brincadeiras, as meninas dão comidinha para suas bonecas, trocam fraldas e, assim, vão treinando para a maternidade. Aos meninos, tal ensaio não é concedido –nos joguinhos infantis, papai está sempre trabalhando. Mas o que acontece quando a vida faz com que esses papéis sejam invertidos?
Seja por motivos trágicos (como uma morte precoce) ou muito pessoais (como romances extraconjugais), um pai pode se ver, de uma hora para a outra, sem a figura da mãe, com um ou mais filhos para criar sozinho. O tema serviu de enredo para o clássico filme "Kramer vs. Kramer" (1979), em que o personagem de Dustin Hoffman se via às voltas com as dificuldades de cuidar por conta própria de seu filho, deixado pela mãe, vivida por Meryl Streep.
Quem viveu essa experiência sabe que as dificuldades são muitas, a começar pela desconfiança alheia: muita gente ainda acha que homem não tem jeito para cuidar de crianças. Por outro lado, as alegrias também são imensas: os laços afetivos que envolvem pais e filhos nessas situações podem resultar em relações saudáveis, repletas de cumplicidade e confiança.
 Brasilio e seu dois filhos

Que o diga Brasilio Brant, 51 anos, de Aparecida de Goiânia (GO). Antes dos 25 anos, ele assumiu a criação dos dois filhos de mães diferentes e ao mesmo tempo. Quando Arthur, 18 anos, nasceu, a mãe não quis ficar com o menino. Nessa época, Brant já era pai de Thiago, então com nove anos, e que morava com a avó materna. "Por causa da idade, ela já não conseguia educá-lo", diz.
Após ter se casado novamente, a mãe do menino não pretendia levá-lo com ela. Em seu primeiro ano de vida, Arthur foi criado por uma tia. "Fiquei apavorado com a possibilidade de cuidar de um recém-nascido. Mas, passado esse tempo, fui buscá-lo, sob os protestos da minha irmã e do meu cunhado, que achavam que não ia dar certo. Mas deu", afirma.
Brant conta que foi muito difícil conciliar a vida de solteiro, o trabalho e os filhos. Entretanto, garante que nunca colocou Arthur e Thiago em segundo plano. "Participei ativamente de todas as fases do crescimento deles. Fui a todas as reuniões escolares, festas de Dia das Mães etc.". Alvo de críticas e preconceito quando decidiu cuidar dos dois meninos, ele conta que sempre teve em mente que não tinha o direito de errar. Emocionado, ele diz: "Consegui, pois meus filhos são carinhosos, atenciosos, educados, inteligentes e respeitadores."
Aos oito anos, Henrique foi morar com o pai,
Hélio Duarte, no Rio Grande do Norte
Já Hélio Duarte, secretário de meio ambiente e urbanismo de São Gonçalo do Amarante (RN), iniciou a carreira solo em julho de 2005. Seu filho Henrique, na época com oito anos, morava com a mãe em São Paulo, mas não quis mais voltar para casa após uma temporada de férias escolares na casa do pai. "Apoiei a decisão, claro, mas confesso que me assustei no início, porque morava sozinho e tinha uma vida de solteiro". Duarte acreditava que não daria conta da criação do filho, mas, aos poucos, os dois adaptaram-se à vida nova. Há dois anos, a ex-mulher de Hélio voltou a viver em Natal e o garoto, agora adolescente, passa os finais de semana com ela. "A rotina de cuidar de uniforme, alimentação, ver as notas da escola e dar bronca continua comigo. Acordo às 5h20 para preparar tudo", afirma o pai.
Para o estudante de comércio exterior Thiago Carvalho, 24 anos, de Limeira (SP), a relação com a ex foi tumultuada desde o início. Um mês após terminarem o namoro, a garota descobriu que estava grávida. Ela sofria de depressão e síndrome do pânico e chegou a tentar o suicídio. Pouco antes de dar à luz, ela disse a Thiago que o filho não era dele. Assim que Symon nasceu, Carvalho fez um empréstimo para pagar o exame de DNA. "Para minha felicidade, o resultado deu positivo e imediatamente fui registrá-lo", explica.
Os transtornos emocionais da garota, no entanto, pioraram. Ela acabou sendo internada em uma clínica especializada logo após o parto e Symon foi direto do hospital para os braços do pai. Hoje, com 1 ano e 3 meses, o garoto é a sua alegria. "Sou estagiário e ganho menos do que um salário mínimo. Me desdobro para sustentá-lo, mas ele é minha motivação para batalhar e tentar evoluir". Apesar da certeza de que nunca se sentirá sozinho ao lado do filho, Thiago diz temer não conseguir encontrar uma nova parceira por ser pai solteiro. "Sonho em encontrar alguém que me aceite como sou, pai de um filho a quem amo incondicionalmente", diz.
Para o chileno Claudio Riquelme, a pequena Arantza, de 5 anos, é sua "musa inspiradora"
Diferentemente da relação complicada de Carvalho com a mãe de Symon, e pensando no bem-estar da filha, o chileno Claudio Riquelme, 37 anos, optou pelo esquema de guarda compartilhada com a ex-mulher, com quem se dá bem. Devido à atribulada rotina de trabalho da mãe, Arantza, de 5 anos, só a vê aos finais de semana, em Rio das Ostras (RJ), onde mora com o pai. Ele a chama de "musa inspiradora" e derrete-se ao falar das mudanças em sua vida desde que começou a cuidar da menina: "Passei a ser mais cuidadoso com os detalhes, mais afetuoso e uma pessoa muito melhor". Riquelme e a filha fazem muitas coisas juntos, como pintar, navegar pela internet e brincar -uma das brincadeiras preferidas da pequena é inverter os papéis e fingir que é a mãe ou professora dele.

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